A catequese matrimonial também é necessária para os casamentos comunitários e legitimações?

Antes de responder, é necessário cuidar das definições exatas dos termos que estamos utilizando.

Casamentos comunitários (ou coletivos) são aqueles que acontecem com vários casais em uma única celebração. A grande maioria dos que assim se casam é composta por casais com restrições financeiras, mas também podem ser casais que se acomodaram ao longo dos anos e precisavam de um empurrãozinho de alguém que ajudasse nos preparativos. Assim, a diocese, paróquia ou grupos (como a pastoral familiar) viabilizam a celebração do Matrimônio, encarregando-se de todo o processo canônico e da estrutura, como ornamentação da igreja, equipe de música, etc. Os custos são mínimos ou mesmo inexistentes para os casais. Em algumas situações e com a comprovação da incapacidade de pagamento, até mesmo as custas civis (taxas de registro em cartório) podem ser isentas.

Os casamentos comunitários resolvem um problema de nossa sociedade que associa a celebração do matrimônio ao dinheiro. Na verdade, não é necessário ter dinheiro para se casar. Além dos casamentos comunitários, o matrimônio pode ainda ser contraído com a presença do assistente (padre, diácono ou mesmo um leigo autorizado, que é chamado testemunha qualificada) diante de duas testemunhas. Mas também pode acontecer em uma missa da comunidade, mesmo durante a semana.

Não estou reduzindo o valor do momento. Eu sei que contrair matrimônio é uma grande festa, pois é o sim à vocação, um sim que transforma toda a vida. É algo grandioso e, sempre que possível, deve ser celebrado com festa e muitos convidados. Mas isso não é condição para se casar. Não se deve adiar indefinidamente o casamento à espera de condições financeiras para a realização de “um sonho”.

Por esta perspectiva, entendo que organizar um casamento comunitário é uma grande obra de caridade. É mesmo um nobre apostolado trabalhar para casais unirem-se em Matrimônio e oferecer a oportunidade para retomarem ao estado de graça.

Agora, vamos a outro termo bastante utilizado no Brasil, que é legitimação. Ele também é usado para significar o casamento de casais que coabitam – moram juntos – há vários anos, tenham ou não se casado civilmente. Tais casais podem optar pelo casamento particular ou pelo comunitário. Contudo, me preocupa o uso deste termo, pois pode levar à duas conclusões. A primeira é que o fato de viverem juntos há anos atestaria que o casal está pronto para formalizar o matrimônio, ou seja, para legitimá-lo. A segunda é que, se já são considerados prontos, bastaria marcar o casamento e dispensar qualquer tipo de preparação. Ambas as conclusões são temerárias, porque generalizam a situação e descartam o grande objetivo da preparação, que é o discernimento acerca da vocação.

Será que um casal está apto a contrair matrimônio a partir do fato de coabitarem há anos? Como foram os anos que passaram juntos? Será que sabem o que é Matrimônio? Sabem o que é ser uma só carne? Entendem o que é um sacramento? Conhecem as promessas que farão e estão determinados a vivê-las? Estas e muitas outras perguntas podem ser feitas.

É por isso que me causa desconforto falar em matrimônio de legitimação tanto quanto falar na simplificação da catequese matrimonial para casais que se casam pelos casamentos comunitários. Não pode haver diferença, pois o Matrimônio é um só, as promessas são as mesmas e o conhecimento necessário também.

Quando penso no casamento dos casais que coabitam há muitos anos, o caminho deve ser um processo particular de acompanhamento e de promoção do discernimento. Tal como discuti no artigo anterior, a catequese matrimonial é necessária a todos os “candidatos ao matrimônio”. 

É desta forma que a Igreja procura se certificar de que o sim dado no altar seja consciente, muito mais como compromisso vocacional do que uma regularização de situação. Através de uma preparação para o Matrimônio, se bem estruturada, os casais podem adquirir novos conhecimentos, reavaliar conceitos e práticas de suas vidas. 

Aqui entra a experiência dos casais de agentes – os catequistas – para avaliar as melhores estratégias para se trabalhar com casais maduros. Pode ser que algum tema seja abordado mais superficialmente ou que seja dado como tarefa de leitura e conversa de casal para discussão posterior com o catequista. É um trabalho artesanal a partir da realidade de cada casal. Mas não é um benefício para os candidatos ao matrimônio criar programas reduzidos, encontros com palestras e eliminar este ou aquele assunto do conjunto de temas básicos que a Igreja nos recomenda. Isso seria privá-los do que necessitam para um matrimônio consciente ou até mesmo para desistirem de casar se julgarem que as exigências são muito grandes, o que também é um fruto da catequese.

Eu vejo com bons olhos todo o empenho das equipes que buscam e convidam os casais amasiados para avaliarem a possibilidade de se casarem. É necessário! Mas deve ser um convite para conhecimento e reflexão, com tranquilidade e tempo, durante alguns meses. As equipes paroquiais, de forma ativa e em harmonia com todas as pastorais, podem localizar os casais amasiados e convidá-los para a catequese matrimonial, para alguns encontros de formação e discernimento. Para estes casais, a opção pelo casamento será um possível fruto de um processo de discernimento. O que não deveria acontecer é uma oferta garantida de casamento com data definida em que os casais se inscrevem e passam (quando passam!) por algumas palestras.

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